No ponto final
- isabelmagalhaest
- 21 de jun. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 26 de jun. de 2019
7545-10 Sentido Bairro
Praça Ramos de Azevedo, centro de São Paulo, 8h24, sábado. No ponto de ônibus, outras cinco pessoas esperam o veículo já estacionado abrir as portas. O motorista está em posição, preenchendo papéis, enquanto o cobrador come um sanduíche de pé.
As portas abrem, os passageiros entram no 7545-10 e a viagem rumo ao Jardim João XXIII se inicia às 8h29. Neste horário a rua da Consolação e a avenida Rebouças estão tranquilas. O motorista aproveita a falta de movimento e o fato de não precisar parar em todos os pontos para acelerar.
Às 8h56, o ônibus pára no ponto do metrô Butantã. Muitas pessoas descem e mais ainda sobem, já não há mais lugar vazio. Se antes a paisagem era característica da região central da cidade, com vias espaçosas e corredores de ônibus, além de prédios altos e calçadas arborizadas, a partir deste ponto, o trajeto se torna diferente.

De repente, o ônibus deixa de circular em ruas e avenidas convencionais e entra da rodovia Raposo Tavares. Paradas cada vez mais espaçadas dão novas oportunidades para o motorista acelerar, como fazem todos os veículos que trafegam nas pistas.
A rodovia é movimentada, caminhões, ônibus de viagem e carros particulares circulam para os municípios vizinhos da região oeste de São Paulo, Osasco e Taboão da Serra, que por sua vez, são pontos de passagem para o interior do estado e rota para cidades como Sorocaba, além de ponto de acesso para a BR-116 que corta o Brasil de norte a Sul próxima ao litoral.
A paisagem torna-se monótona, muitas pistas para veículos, grandes galpões na beira da rodovia, árvores, passarelas e viadutos atraem o olhar. Depois de fazer uma entrada à direita, o ônibus entra em uma vila com casas e comércio simples. Calçadas estreitas e ruas de sentido único. Grandes blocos de conjuntos habitacionais de destacam em meio às casinhas coloridas.

Quando achamos já ter chegado ao destino, o ônibus ainda faz voltas por ruas que sobem e descem e nos permitem compreender a extensão da comunidade. Temos a impressão de já ter passado por alguns lugares porque as construções e ruas se parecem.
Às 9h48 chegamos ao ponto final. Reconhecemos o caminho feito pelo ônibus e percebemos que, de fato, fizemos um passeio pelo bairro. Neste ponto —que na realidade é uma rua com ônibus estacionados os dois sentidos—, há uma casinha para o fiscal da concessionária Transpass e bancos para os passageiros aguardarem.
No Jardim João XXIII
Enquanto estávamos no ônibus, percebemos indicações para o CEU Uirapuru. Sabendo que se tratava de um espaço de cultura e lazer, tentamos recuperar as indicações para visitá-lo. As placas não nos ajudaram e recorremos ao Google Maps.
Andamos por ruas estreitas com calçadas desgastadas e, em alguns trechos, inexistentes. Em ruas apertadas, precisamos esperar a passagem do "caminhão da cândida", que vendia produtos de limpeza, para podermos voltar a andar no asfalto.

Nossa visita ao CEU Uirapuru neste dia é apenas exploratória, descobrimos que o espaço tem quadras esportivas, biblioteca e piscina, além de um teatro para apresentações de estudantes, palestras e peças. Na semana seguinte, voltaríamos com autorização para gravar imagens e realizar entrevistas no local.
No caminho de volta para o terminal do ônibus, passamos por diversas praças que são, visivelmente, cuidadas pelos moradores. Com cercas pintadas e avisos para que as pessoas não joguem lixo, esses espaços reunem idosos que conversam sentados em bancos improvisados.
Algo que chama atenção, logo na saída do CEU Uirapuru é um córrego aberto, com água turva e entulhos. Percebemos que não há mal cheiro e que a água parece corrente. Em outro ponto do bairro, havia obras de canalização e saneamento, mas não conseguimos descobrir se estariam relacionadas a esta porção do rio.
Passamos por duas feiras, uma tradicional, com frutas de verduras e outra com produtos "Do Brás". Esta feira de roupas movimenta pessoas que escutam a música sertaneja alta saindo das caixas em frente a uma tenda com pastel e caldo de cana. Próximo à feira "Do Brás" fica o "Terrão", campo de futebol frequentado por crianças e adultos que disputam partidas durante todo o fim de semana.

Após consultar o mapa, decidimos visitar o Educandário, em caminho que levou aproximadamente 20 minutos de ônibus, mas que concluímos em menos de dez à pé, uma vez que poupamos as voltas pelo bairro. Chegando ao portão em estilo colonial, cruzamos com um ônibus cheio de idosos com fantasias de festa junina que acenavam, provavelmente animados para a festa em algum arraial da cidade.
O espaço do Educandário é maior do que se imagina de fora. No interior há algumas construções também em estilo antigo que sediam aulas e cursos para a comunidade e grandes espaços verdes com árvores, quadras poliesportivas cobertas e descobertas e parquinhos com brinquedos para crianças.
Vimos algumas pessoas andando de patins, outras fazendo piqueniques e praticando esportes e a maioria no parquinho aproveitando alguns raios de sol. Em todas as nossas abordagens, havia uma constante: os frequentadores adoram o local e o veem como uma preciosidade pouco explorada da região.

Por volta de meio-dia, quando fomos embora, decidimos pegar o ônibus no mesmo ponto em que chegamos. Com seis veículos estacionados, perguntamos ao fiscal qual deles sairia antes e aguardamos junto com as outras pessoas para entrar. Desta vez, o caminho dentro do bairro pareceu mais curto, talvez por já termos nos familiarizado com a paisagem da região.
A cada ponto, o ônibus ficava mais cheio e, ao entrar no acesso para a rodovia Raposo Tavares, já não havia lugares livres e muitas pessoas estavam de pé. Dois homens entraram com mochilas de aplicativos de entrega —provavelmente indo trabalhar com bicicletas na região central. Um deles desceu na altura da av. Brigadeiro Faria Lima e o outro depois de nós.
Em cerca de 90 minutos estaríamos na região central novamente, com fortes impressões sobre o bairro e sua dinâmica. Em nossa segunda visita, na semana seguinte, já dominávamos o trajeto e a localização dos lugares que queríamos visitar.
Nosso único descuido, no último instante, foi pegar o ônibus errado no caminho de volta. Julgamos que todos os ônibus do ponto final fariam o mesmo caminho, e entramos no veículo verificar o número da linha. Percebemos que o caminho estava levando mais tempo do que na primeira vez e quando nos demos conta estávamos para lá da marginal Pinheiros.
Chegamos ao centro um pouco mais tarde, mas descobrimos um caminho alternativo que parte do Jardim João João XXIII para quando quisermos visitar o bairro novamente.

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